Religião
Correndo para Jesus – Por Daniel Lima
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Eram cerca de 5.000 pessoas correndo. A paisagem da orla do Guaíba estava um tanto apagada naquela manhã fria e nublada. No entanto, para aqueles que corriam, o clima encoberto era até uma ajuda. O alvo era completar os 42.180 metros da maratona de Porto Alegre. Eu mesmo não corri, mas fui vibrar, apoiar e recepcionar minha esposa, Ana Paula, que ousou tentar esta proeza.
Enquanto esperava por sua chegada, olhando ansiosamente os corredores a cerca de 200 metros do final, fui ficando impactado por faces, choros, expressões de dor e de persistência. Não podia deixar de imaginar as horas, as semanas, os muitos metros percorridos antes mesmo destes fatídicos 42 mil. Tendo acompanhado os meses de preparação de Ana Paula, eu ficava imaginando quantas vezes aquela senhora deixou o conforto de sua casa para sair correndo na rua. E aquele senhor que passa com o rosto distorcido por uma expressão de choro, o que vai em seu coração? E aquele outro homem, um tanto acima de seu peso ideal, que passa lutando com câimbras? São tantas histórias e tanto esforço… E estes eram os corredores que estavam chegando com mais de 4 horas de prova, ou seja, sem nenhuma chance de medalha além da medalha de participação…
Ao ver tanto esforço dedicado à uma prova atlética nobre, mas cuja maior conquista é simplesmente sua realização, eu fui levado a pensar em seu óbvio paralelo com nossa jornada cristã, e fiquei imaginando como seria se nossa chegada no céu fosse como uma chegada de maratona. Eu penso em quantos rostos cansados, mas cheios de alegria, realização e sensação de vitória por completar a carreira! No final de sua vida aqui na terra, o apóstolo Paulo usa essa expressão em 2Timóteo 4.7-8:
7Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. 8Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda.
Em meus últimos artigos tratei sobre “terminar bem”. Um dos hábitos daqueles cristãos que terminam bem é uma vida disciplinada. Preparar-se para uma maratona certamente representa uma vida disciplinada. A maioria de nós não vai (e talvez nem deva) visar correr uma maratona. Contudo, enquanto cristãos, somos diariamente desafiados a completar a carreira, concluir a corrida, chegar ao alvo. Em Hebreus 12.1-3 lemos:
1Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, 2tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. 3Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem se desanimem.
Hoje quero falar do verso 1 e na semana que vem quero explorar o restante da passagem. Os dois primeiros conselhos do autor de Hebreus para uma corrida são óbvios, mas há muita verdade obvia que precisa ser lembrada: livre-se (1) daquilo que atrapalha e (2) do pecado que nos envolve. Esta é uma dupla curiosa. Primeiro porque pensaríamos que aquilo que nos atrapalha em nossa corrida cristã é o pecado. O pecado certamente nos atrapalha, mas o autor indica que há coisas que nos atrapalham e que não são necessariamente pecado, são apenas “entulho”.
O pecado certamente nos atrapalha, mas há coisas que nos atrapalham e que não são necessariamente pecado, são apenas “entulho”.
“Entulho”, neste sentido, são compromissos, sonhos, desejos e até mesmo relacionamentos que, ao invés de nos facilitar a jornada cristã, nos atrasam, desviam nossa atenção, sugam nossa energia. Pode ser um hobby inofensivo em si, mas que demanda um tempo excessivo, pode ser o sonho de entrar em uma faculdade específica, ou conquistar uma função profissional, ou então pode ser o anseio de manter um relacionamento que nos impede de correr livremente em direção a Cristo. Nenhuma destas coisas em si é pecado, mas cada uma pode tomar uma posição desequilibrada em sua vida. Quem corre uma maratona procura estar o mais leve possível, pois qualquer peso desnecessário é um impedimento a mais para concluir essa difícil prova.
Minha sugestão é que você e eu façamos uma avaliação radical de nossas vidas. Estou carregando um peso que, embora inofensivo, tem me atrapalhado a caminhar? Em vista de minha jornada cristã, estes compromissos têm tanto valor assim? Devo comprometer minha caminhada rumo a Jesus para carregar estes pesos? Seja sincero nesta avaliação, não procure se justificar afirmando que “isso nem me atrapalha tanto assim…”. Quais os pesos que hoje atrasam sua vida espiritual? O que em sua vida, caso fosse abandonado, traria muito mais liberdade para correr?
Minha sincera oração é que esta avaliação nos leve a correr com mais leveza a corrida que Jesus mesmo nos propôs. Afinal, ele mesmo afirmou que “o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.